Artigo: Abriu a porteira!
A verdade que ensinamos à criança, que começa a andar, é a mesma do mundo dos negócios: Um passo de cada vez.
A questão das habilitações para o mercado chinês é complexa e de reflexos a longo prazo.
O imediatismo e ações afoitas não ajudam em nada em uma estabilidade e um ganho a médio e longo prazo.
A China em si representa muito para qualquer mercado, mas não é ela sozinha a “salvação da pátria”. Outras aberturas virão na própria Ásia e na América do Norte.
O trabalho que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sob a coordenação da Ministra Tereza Cristina, realizou junto com sua equipe e com apoio do deputado federal Alceu Moreira e toda bancada ruralista, com certeza, redundará em novos avanços.
Porém no linguajar da “lida” a porteira está aberta.
A China é só o começo, pois cremos que a pecuária mudará de nível passo a passo nos próximos cinco anos, nosso boi poderá ser abatido no máximo com dois anos e acima das 18 arroubas, sendo conservador na probabilidade. Com certeza, a qualidade vai ser premiada com carcaças selecionadas.
A guerra entre produtor e indústria, fruto de motivos justos do passado, vai deixar de existir. E então nascerão parcerias sólidas e as palavras rendimento, classificação e balança serão definitivamente equacionadas.
Nosso clima, nossa terra e nossas pastagens permitem raças puras e cruzadas, nos dando diversidade e qualidade em produtos a serem ofertados ao mercado.
Nossas indústrias terão estabilidade e lucros suficientes para transmitirem tranquilidade ao setor produtivo. Então encontraremos um novo patamar para o setor.
A pecuária vai experimentar um novo ciclo com valorização da arroba do boi se igualando aos preços internacionais. Uma grande virada se desenha no setor. Não se trata de uma alteração simples de processo.
Não é uma situação nova e imediatista, tão pouco uma alteração que caiu do céu. O que mudou não foi apenas uma troca de ministro, uma conquista pessoal de um ou outro agente governamental. O que mudou foi uma troca de filosofia e de visão de mercado.
O Brasil está se “abrindo” ao mercado internacional sem restrições e aproveitando oportunidades.
O Brasil está se fazendo respeitar com uma posição de um presidente que se mostra altivo. O mundo precisa de nós, isto é bem diferente de pensar que apenas precisamos do mundo. A interdependência, que na verdade existe entre os países, precisa ser gerenciada de modo impositivo e não de modo passivo e de submissão.
A pecuária, historicamente hereditária, ou sendo segunda e terceiras opções de negócios, perde espaço para uma pecuária empreendedora. Muda a “cabeça” de quem faz pecuária, muda conceitos com investimento para se fazer carne.
Este processo, que já está em andamento nos últimos anos, ganha novo combustível, e nos próximos cinco anos fará da pecuária o que dela se sonhou nos últimos 50.
Restarão os entraves logísticos e as amarras da legislação, que ainda parte do conceito de que toda indústria está voltada para a má fé, custos tributários e trabalhistas que nos colocam em desvantagens internacionais, porém temos que vencer também estes obstáculos impostos a nós da porteira para fora. O fato que pode nos animar, atualmente, é termos um governo, e mesmo uma opinião pública conscientes de que isto é um problema que trava o desenvolvimento, o emprego e a renda e, portanto deverão ser equacionados.
A porteira está aberta, e com calma, precisamos “afinar” a boiada.
*Paulo Bellincanta é presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sidifrigo-MT)*