Histórias de começos e recomeços: como o SENAI ajuda na conquista do primeiro emprego
Como conquistar experiência sem receber, antes, uma oportunidade? O dilema dificulta para muitos a busca pelo primeiro emprego. Nesse momento crucial, de início de carreira, uma especialização técnica de qualidade pode ser um impulso decisivo. Isso explica a alta procura por cursos técnicos, que aumentou 63% entre 2008 e 2016, de acordo com dados do Censo Escolar de 2016 do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Dyana Lyra Simões, 23 anos, é um exemplo de escolha certeira pela educação profissional. Em março de 2018, ela se formou em Edificações pelo SENAI do Maracanã, no Rio de Janeiro. Apenas dois meses depois, em maio, já estava empregada na Schneider Electric, uma multinacional francesa especializada em gestão e distribuição de energia elétrica.
Estudante de Engenharia Civil, Dyana trabalha na área de redimensionamento elétrico e sente-se confortável ao aplicar no dia-a-dia profissional aquilo que aprendeu na prática. Sente-se confortável, também, ao traçar comparações entre o curso técnico e o ensino superior:
“Eu sempre digo que o SENAI é melhor do que a faculdade, que é muito teórica”, afirma Dyana. “No curso técnico, ao contrário, você ‘bota a mão na massa’, realiza projetos completos. O que faço hoje no meu trabalho foi o que aprendi lá, não na faculdade”.
Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), assim como Dyana, 60% dos alunos de cursos técnicos conseguem emprego em seu primeiro ano de formados. E costumam levar vantagem na corrida contra quem não fez o curso.
“Não temos exatamente experiência de trabalho. Mas temos um treinamento muito próximo [da experiência profissional]”, diz Dyana. “E o SENAI oferece uma disciplina de gestão de pessoas, que aborda como devem ser as relações, o respeito à hierarquia e à política da empresa, a ética de trabalho… Isso me ajudou e me ajuda muito no meu emprego. É um diferencial importante”.
Projetos desenvolvidos nos cursos técnicos são um chamariz para empresas em busca de jovens criativos e competentes. Em outubro, Gustavo Tremea, de 18 anos, era um dos alunos do SENAI de São Leopoldo, na Grande Porto Alegre, participando da Mostratec. Realizada anualmente em Novo Hamburgo, também na região metropolitana da capital gaúcha, a feira de ciência e tecnologia promove conexões entre instituições de ensino e pesquisa e o meio empresarial.
Estudante do último módulo de Automação Industrial, Gustavo montou, com um colega, toda a parte elétrica e de automação de uma estrutura de pintura de ligas metálicas criada por alunos do curso de Mecânica. O trabalho chamou a atenção da SKA, fornecedora de tecnologia para automação de engenharias.
“Eles viram nosso projeto e me fizeram perguntas. Pegaram meus contatos e acabo de assinar contrato com a SKA”, diz Gustavo. “Termino o curso em dezembro e já começo lá no dia 2 de janeiro, em um estágio remunerado. Vai ser meu primeiro emprego.”
O jovem é duplamente aluno do SENAI. Além de Automação Industrial, ele está se formando no curso de Eletricista de Manutenção:
“Faço os dois no SENAI, um à tarde e o outro à noite. Eles se completam, porque sinto muita afinidade com a parte elétrica, que é fundamental na automação”, diz Gustavo. “No futuro, quero fazer faculdade de Engenharia. Não pude logo que terminei o Ensino Médio porque não tinha condições financeiras para encarar uma faculdade. Chegar lá já tendo uma profissão e um emprego que me ajude a pagar vai fazer toda a diferença”.
Gustavo tem razão. Uma pesquisa divulgada pelo SENAI em 2017 revelou que profissionais que fizeram cursos técnicos têm, em média, um acréscimo de 18% na renda quando comparados com outras pessoas que concluíram só o Ensino Médio regular.
Para aumentar ainda mais as suas chances, é importante prestar atenção às demandas do mercado. É o que mostra a história de Cleri Fátima Marostica. Aos 40 anos, ela resolveu se reinventar – palavrinha que já virou clichê, mas que Cleri diz traduzir perfeitamente a reviravolta que promoveu em sua vida.
Técnica em Edificações há mais de dez anos, ela trabalhava em uma empresa de Cuiabá em que não havia um único técnico em Segurança no Trabalho.
“Sentia a falta desse profissional. Não só lá, aliás: comecei a notar a ausência em outros lugares em que o técnico seria fundamental. Então, decidi começar de novo. Entrei para o SENAI de Cuiabá em 2016, me formei em março deste ano, fiz um estágio e fui logo contratada como assessora de segurança no trabalho da Asstramed, empresa especializada nessa área. Não é meu primeiro emprego na vida – e sim o meu primeiro emprego nesta minha nova vida.”
Mãe de uma moça de 19 anos e de um menino de 8, Cleri recebeu o apoio dos filhos e do marido, que é caminhoneiro.
“Eu pensava: ‘Ah, não tenho mais idade para isso. Estou com 40 anos, passei da hora de mudar’. Mas meu marido me dizia que eu precisava seguir meu instinto, fazer o que realmente queria. Decidi num impulso. Tive medo, fiquei insegura. Agora estou com 42 anos e querendo aprender cada vez mais".
Hoje, ela diz que não poderia estar mais feliz com sua escolha. Na vida de Cleri, não há mais espaço para a rotina:
“Como meu trabalho é em uma assessoria, estou cada dia numa empresa diferente, de uma área diferente. Posso estar hoje num hospital, amanhã num frigorífico, depois de amanhã numa obra. Nenhum programa é igual ao outro, porque os riscos são diferentes e as soluções também. É um leque muito aberto, não tem como me entediar”, diz, empolgada.
Por falta de condições financeiras, quando era jovem ela não teve oportunidade de uma graduação no ensino superior. Agora, acaba de prestar o Enem para Engenharia Civil e está esperando o resultado.
“Pretendo me especializar em Segurança no Trabalho. O SENAI me deu uma base e um rumo. Agora, eu quero seguir em frente.”