Aumentar e diversificar parceiros comerciais são desafios para economia nacional e estadual
O dia 24 de fevereiro de 2022 ficou marcado no mundo pela invasão das forças russas no território da Ucrânia. De lá para cá, instalou-se uma instabilidade na economia mundial e nas relações exteriores. No Brasil, uma das primeiras discussões levantadas foi a questão dos fertilizantes, visto que a Rússia é um dos principais exportadores do produto e Mato Grosso, por exemplo, um mercado consumidor extremamente dependente desse insumo.
Para falar sobre esse e outros temas tão importantes para a indústria, o Boletim Comex deste mês entrevistou a gerente de internacionalização do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Sarah Saldanha.
De acordo com a especialista, em um mundo globalizado com economias interconectadas, cadeias de valor cada vez mais integradas e estimuladas por grandes empresas, um conflito armado é responsável por trazer diversos impactos aos mercados. No caso do Brasil, os desdobramentos do conflito vão além do impacto nas commodities agrícolas, em virtude do fornecimento de fertilizantes, repercutindo também no custo de produção nacional motivado pelo petróleo e seus derivados.
Diante desse cenário, torna-se necessária uma atenção do Brasil aos efeitos causados pelo conflito armado, observando por um tempo maior quais as oportunidades de reorganização de cadeias que podem surgir em consequência desse aprendizado.
“Estamos falando de uma região essencialmente fornecedora de fertilizantes, que tem trazido preparação para o país em caso de uma situação de contingência como essa. É lamentável a perda de vidas, a exposição de civis nesse processo e, sem dúvida, é uma oportunidade para olharmos o panorama da internacionalização de uma forma mais humana. Cada vez mais o comércio exterior vai requerer a combinação de fatores como: produtividade, competitividade, valor humano, empreendedorismo, as questões sociais e as questões de economia verde”, explica.
Para a especialista, compliance, sustentabilidade, meio ambiente são preocupações centrais e que, certamente, precisam ser incorporadas. Além disso, há uma necessidade que o Brasil fomente e fortaleça a sua atuação nesses temas de fronteira, que foram muito referenciados pela pandemia.
Mapeamento de parceiros
Como forma de antecipar a esses e outros possíveis cenários, bem como fomentar temas de importância global, buscar estratégias para acessar novos mercados e parceiros comerciais, em novembro do ano passado, uma comitiva com 300 empresas brasileiras, de 25 estados do país, participou da Expo Dubai 2020, nos Emirados Árabes Unidos.
A missão, liderada pela CNI, participou da primeira edição de uma exposição universal realizada no Oriente Médio. O evento promoveu a compreensão do mercado árabe e proporcionou o contato com as inúmeras oportunidades que ele pode trazer aos diversos setores brasileiros. Integrando a comitiva, a especialista classificou a experiência como uma aproximação estratégica e porta de entrada para comercialização de produtos brasileiros, além da identificação de parceiros e investidores em setores industriais.
“As empresas que participaram da missão conosco tiveram a oportunidade de contato com diversos parceiros em segmentos diferentes: atacadistas, varejistas, investidores e sócio produtivos. A escolha dessa estratégia de entrada é muito importante”, afirma.
Dentre o conhecimento obtido durante a visita, as questões culturais, socioculturais e negociais estão entre os pontos que devem ser destacados, segundo Sarah. Diante disso, ela assegura a necessidade de uma preparação e maior robustez da cultura empresarial para internacionalização das empresas brasileiras. “Os árabes estão ansiosos para trabalhar com o mercado brasileiro nas áreas de alimentos, moda, higiene pessoal e construção civil. É muito importante que esses setores se preparem para incorporar essas questões culturais na sua negociação”.
Outro setor importante para concorrer nos mercados árabes é o agronegócio, que é fornecedor de commodities agrícolas e muito evidente no cenário mundial pelo grande espaço que possui.
“É um fator importante para concorrer nos mercados árabes e, de certo modo, para que o Brasil possa mostrar o valor agregado e embarcado da indústria brasileira no setor agrícola. O Brasil não teria a produtividade que tem se não tivesse implementos agrícolas, tecnologia embarcada, toda parte de suporte, competitividade e eficiência do agronegócio. Ao vender para os Emirados Árabes, é importante que as empresas percebam e se posicionem dessa maneira, como competitivas para além das commodities agrícolas”.
Certificados de origem
Uma solução para garantir a competitividade do agronegócio e de outros setores industriais na exportação dos seus produtos é o certificado de origem, que é uma importante ferramenta para assegurar a origem do produto e é pré-requisito para reduções ou isenções de impostos de importação em países que o Brasil tem acordos internacionais.
Para oferecer segurança na exportação desses produtos, a CNI mantém uma estratégia coordenada com 25 federações de indústrias para emissão desses certificados. “Essa é uma vantagem importante porque, na verdade, o certificado de origem é um documento que garante a competitividade da empresa brasileira. Sua plena utilização é fundamental para que a empresa torne seu preço mais competitivo”, pontua.
O documento é realizado dentro do sistema Certificado de Origem Digital (COD) e promove a internacionalização das empresas brasileiras por meio da oferta de um conjunto de serviços customizados a suas necessidades.
“Nós asseguramos um menor tempo de emissão, mais ágil e com uma qualidade técnica superior desse certificado de origem para a indústria brasileira. O trabalho do Sistema Indústria é assegurar coerência e qualificação técnica profunda entre o que está negociado pelo Brasil nos acordos internacionais e o documento apresentado pela indústria brasileira nas fronteiras”, finaliza.
Texto: Maria Clara Souza / Fiemt