Mercado de trabalho é tema de estudo realizado pela Federação das Indústrias - Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso

Mercado de trabalho é tema de estudo realizado pela Federação das Indústrias

28/04/2023 - 12h23
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Resultado da disparidade entre o desenvolvimento da
economia e a expansão demográfica. Foto: Divulgação

O crescimento econômico das indústrias de Mato Grosso, que anda a passos largos, joga luz para a alta demanda por força de trabalho. Essa dificuldade de retenção e captação de mão-de-obra qualificada, com baixo índice de desocupados no estado, é também resultado da disparidade entre o desenvolvimento da economia e a expansão demográfica.  

O cenário do mercado de trabalho é tema de um levantamento feito pelo Observatório da Indústria do Sistema Federação das Indústrias de Mato Grosso (Sistema Fiemt). O relatório, que ajuda a nortear as tomadas de decisões para o fomento do setor industrial, vem de encontro às ações realizadas pelo Sistema Indústria, que lidera grupo de trabalho com diversas entidades do setor produtivo e órgãos públicos sobre os desafios da escassez de mão de obra no estado. Clique aqui para acessar o boletim

“Estamos vivendo o chamado pleno emprego, situação em que o trabalhador escolhe onde quer trabalhar em função da disponibilidade de vagas de emprego. A oferta por oportunidades de trabalho tem sido maior que a quantidade de pessoas disponíveis”, pontua o presidente do Sistema Fiemt, Silvio Rangel. Ele acrescenta que o estado tem hoje um dos menores índices de desemprego do país, com uma economia superaquecida. 

A necessidade por profissionais em diversos níveis de qualificação é pauta transversal e passa por setores como indústria e construção até ao agronegócio. O estado teve apenas 64 mil pessoas desocupadas no quatro trimestre de 2022, melhor resultado desde o quarto trimestre de 2019 quando havia 117 mil pessoas fora do mercado de trabalho. Os números posicionaram o estado em destaque frente as outras unidades da federação, com a menor taxa de desocupação do Brasil. 

Nacionalmente, havia 8 milhões de brasileiros em estado de desocupação no quarto trimestre de 2022, o número é menor que o registrado no último trimestre de 2019, por exemplo, quando se houve registro de 11 milhões pessoas desocupadas.

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Marcos Santos, 43 anos, que trabalha há 28 anos em uma
indústria instalada em Cuiabá. Foto: Divulgação

Qualificação

A busca por qualificação é uma das estratégias mais importantes para quem deseja crescer no mercado de trabalho. Isso porque, atualmente, as empresas têm buscado profissionais cada vez mais capacitados, com habilidades técnicas e comportamentais que agreguem valor ao negócio. 

Em Mato Grosso, as pessoas ocupadas possuem maior nível de instrução frente as desocupadas e na informalidade. “O mercado de trabalho tem exigido pessoas qualificadas. Os próprios trabalhadores sentem a necessidade de expandir nos estudos para almejar novos e melhores postos de trabalho”, pontua o gerente do Observatório, Pedro Máximo. 

Segundo ele, a nível de comparação, do total de pessoas atuantes no mercado de trabalho 32% possuíam ensino médio completo, 20% têm ensino superior completo, enquanto as pessoas na informalidade 30% possuíam fundamental incompleto e 26% com ensino médio completo. 

Marcos Avelino dos Santos, 43 anos, que trabalha há 28 anos em uma indústria instalada em Cuiabá, não fugiu regra. O crescimento profissional esteve muito atrelado ao da empresa, que tem 30 anos de existência e atua no segmento metal mecânica e elétrica. A necessidade de se qualificar cresceu na mesma proporção que a indústria se expandia no mercado. 

“Comecei como auxiliar de produção, depois me tornei montador elétrico, encarregado de produção no setor de montagem elétrica e, no ano passado, me tornei coordenador de produção”. Com apoio incondicional da empresa, concluiu o ensino médio e, atualmente, cursa Gestão de Produção Industrial no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). 

“A empresa abriu as portas para que pudéssemos fazer uma faculdade. Quando entrei, éramos em apenas 18 colaboradores e hoje temos uma planta com cerca de 900 colaboradores. Fico feliz em ver o crescimento da empresa e as portas que foram abertas para muitas pessoas”.

Além de melhorar as habilidades e competências, a qualificação também aumenta a empregabilidade do profissional. Outro ponto importante é a remuneração. Profissionais qualificados são mais valorizados no mercado de trabalho e, consequentemente, possuem salários mais altos.

Informalidade

A informalidade é um desafio eminente nos tópicos que abordam a economia do trabalho e a transversalidade do assunto, que passa por fatores sociais, culturais e econômicos e é marcado pelo desafio de sua definição e mensuração. Em Mato Grosso, o relatório do Observatório da Indústria aponta que há 618 mil na informalidade. 

O estudo ainda aponta que a cada 100 trabalhadores, 32 estão na formalidade, 17 são informais, 23 estão fora da idade produtiva e 27 fora da força de trabalho. 

Os rendimentos médios de todas as pessoas no mercado formal é 32% maior que os rendimentos daqueles que atuam na informalidade. A desigualdade se amplia ao comparar, por exemplo, os rendimentos de homens e mulheres: na média de rendimentos em Mato Grosso, homens ganham 47% a mais que mulheres.  

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O empresário Marinaldo Ferreira dos Santos fincou raízes
em MT há mais de 30 anos. Foto: Divulgação

De empregado à empresário

As condições favoráveis para o trabalhador mato-grossense estão atreladas diretamente ao fomento de empreendimentos industriais instalados no estado. Conforme dados do Observatório da Indústria, há 12,4 mil indústrias em Mato Grosso que atuam intensamente no fomento da economia local, empregando mais de 165 mil colaboradores.  

Acreditando nesse potencial, o empresário Marinaldo Ferreira dos Santos fincou suas raízes em Mato Grosso há mais de 30 anos. O sonho de criança em ter seu próprio negócio foi conquistado após qualificação e muito empenho. “Eu queria empreender, mas as condições eram muito simples, não tinha condições financeiras, nem qualificação para isso. Me formei em curso de tecnólogo em eletrotécnica pelo Senai e, juntamente com meu ex-patrão e meus dois irmãos, idealizamos a montagem da Trael, uma pequena empresa, uma pequena recuperadora de transformadores”, conta. 

Atualmente, a empresa emprega mais de 900 colaboradores e é referência nacionalmente no segmento que atua. Para ele, os bons resultados foram obtidos com muita perseverança e parceria de todos os colaboradores. O empresário enxerga na qualificação o único caminho para a conquista profissional. 

“Sempre recomendamos o estudo para todos os jovens que colaboram com a nossa empresa e todos os profissionais que querem crescer profissionalmente. O Sistema Fiemt, por meio do Sesi e Senai, proporciona as condições favoráveis para capacitação e qualificação. Além disso, é preciso ter pé no chão e uma boa governança que resulta em uma empresa sadia, pensando ainda no lado social, nas obrigações fiscais, tributárias e mais ainda na formação de pessoas”, destaca.

Ele acredita que se não houver qualificação, não há o crescimento industrial no Brasil. “A empresa precisa procurar todas as formas para ser atrativo, fazer com que o colaborador se sinta atraído a permanecer na sua empresa e com isso automaticamente ir melhorando a qualificação de seus trabalhadores”, pontuou.

Desses 30 anos de empresa, Laudelino Ribeiro Ivo acompanhou 20 anos. “Eu vim para mexer com marcenaria, depois fui para caldeiraria, para guilhotina, e por último escolhido para ficar na slitter, uma máquina complicada, de difícil manuseio, que faz corte longitudinal em bobinas de aço. Cada dia vou aprendendo, cada dia é uma novidade”, revela. Ele acredita que a confiança no seu potencial e no seu zelo com o trabalho fez diferença nesse tempo empresa. 

“Nunca tinha trabalhado na guilhotina, mas trabalhei com muitas ferramentas em toda a minha vida então como aprendo as coisas rápidas, eu fui. Naquele tempo eu lembro que aqui na Trael, a gente cortava 250 papéis por mês e depois de alguns anos começamos a cortar 250 por dia. Eu sou uma pessoa que gosto do que faço e considero a empresa como uma família”, conclui.

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A líder de produção Veronice Neves coordena equipe
de mais de 90 colaboradores. Foto: Divulgação

Força feminina

A presença feminina na indústria tem aumentado nos últimos anos, mas ainda há muito espaço para avanços e mudanças significativas em termos de equidade de gênero no ambiente de trabalho. Levantamento feito pelo Observatório da Indústria aponta que as mulheres representam 40% do total da força de trabalho ocupada, totalizando 701.926 trabalhadoras. 

Os dados que consideram o quarto trimestre de 2022 revelam um crescimento de 6% na comparação com os primeiros três meses do mesmo ano. Por outro lado, em relação a desocupação, o universo feminino predomina com 57%. A desigualdade se amplia ao comparar, por exemplo, os rendimentos dos homens ganham 47% a mais que mulheres,

E assim como muitas mulheres que estão no mercado de trabalho, Veronice de Souza Neves, 38 anos, enfrentou o desafio de conciliar a profissão, a maternidade e os estudos. Casada e mãe de dois filhos adolescentes, ela se destaca como líder de produção em uma indústria. 

“Tenho 14 anos de empresa e comecei como auxiliar de produção. Tive a oportunidade de me tornar líder do setor para uma equipe de quase 50 pessoas. Com o cargo de liderança eu não tinha experiência, mas tinha muita força de vontade, determinação e coragem”. 

Com o apoio da empresa, ela buscou qualificação em um curso técnico em eletrotécnica. “Foi um período muito desafiador ter que ser líder, mãe, esposa e ter que estudar. Era uma luta diária. Participei de vários treinamentos de liderança e a oportunidade de trabalhar em outros setores da fábrica”, disse a trabalhadora que mesmo com todo o esforço não pensa em parar o estudo. 

“Resolvi continuar meus estudos para crescer junto com a empresa. Buscar conhecimento, habilidades para melhoria do processo e também para a minha realização pessoal, já que sempre busquei um ensino superior e não pretendo parar. O próximo passo será uma pós-graduação”, almeja Veronice.

Texto: Vivian Lessa

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