O berço da indústria mato-grossense: a história da Usina Itaicy - Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso

O berço da indústria mato-grossense: a história da Usina Itaicy

01/10/2025 - 11h22
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Foi em uma fábrica, em 1897, que se acendeu a primeira
lâmpada de Mato Grosso


Foi em uma fábrica, em 1897, que se acendeu a primeira lâmpada de Mato Grosso. A chegada da energia elétrica para colocar em funcionamento a Usina Itaicy simbolizou o marco zero da industrialização e o ponto de partida para a trajetória de desenvolvimento do estado. A Federação das Indústrias de Mato Grosso resgata essa história no ano em que completa meio século de fundação.

José Marcos Vargas, presidente do Instituto Itaicy – entidade dedicada à preservação da história e da memória da indústria mato-grossense, com foco na usina – destaca que a produtora de açúcar e aguardente alavancou a economia local, gerou empregos e trouxe tecnologias avançadas para a época.

Construída em Santo Antônio do Leverger, na região conhecida como Rio Acima, por Antônio Paes de Barros, o Totó Paes, a usina era acessível apenas por embarcações. Totó Paes foi presidente do Estado de Mato Grosso entre 1903 e 1906, e foi assassinado por opositores durante sua gestão, naquele mesmo ano.

Conforme Marcos, Totó cresceu em ambiente industrial e fez uma revolução acontecer no setor em Mato Grosso. O pai de Totó Paes, o Comendador Joaquim José Paes de Barros, inaugurou o primeiro equipamento industrial a vapor em Mato Grosso em 1880, no engenho da Fazenda Conceição.

Equipamentos de ponta

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A usina era acessível apenas por embarcações

Os equipamentos eram inovadores para a época, vindos da Alemanha e instalados por técnicos e engenheiros alemães em pleno pantanal mato-grossense do século XIX.

Entre os principais recursos tecnológicos da usina estavam cortadores de cana e dupla moagem tocados a vapor, caldeiras de tríplice efeito a vácuo, com resfriadores, condensadores e secador industrial a vapor e ainda 15 km de trilhos dentro do canavial.

A Itaicy trouxe a energia elétrica para Mato Grosso, a primeira balança industrial, o primeiro para-raios instalado na chaminé de 57 metros de altura, a primeira máquina beneficiadora de arroz a vapor e cobertura em folhas de zinco.

Comunidade e infraestrutura social

Em volta do empreendimento se formou uma comunidade que chegou a ter 5 mil pessoas. No início, foi estabelecida temporariamente uma colônia de famílias alemãs e alguns permaneceram para sempre na região, como a família Reiners de Mimoso.

A infraestrutura social da Usina do Itaicy impressionava para os padrões da época, conforme o presidente do Instituto.

“É impressionante que a comunidade chegou a ter uma escola de música com uma banda, composta pelos filhos dos trabalhadores da usina, fruto dos costumes dos imigrantes alemães. Eles exigiam um ensino de excelência e o mais próximo dos padrões europeus. O conceito de inclusão cultural, hoje tão em relevante, já era uma realidade nas dependências da Usina do Itaicy”, frisa.

Conforme registros do instituto Itaicy, além de energia elétrica, a comunidade contava com água encanada, moradias de alvenaria para 90 famílias de funcionários e estrutura para abrigar mais 150 empregados de forma sazonal, escola de primeiras letras, igreja, biblioteca com 180 volumes, médico, farmácia, armazém, padaria, açougue e cultivo próprio de todos os produtos básicos de manutenção da usina.

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A Usina fechou suas portas oficialmente em 15 de
maio de 1960


Um dos pontos altos da organização social e econômica foi a criação de uma moeda própria interna, cunhada na Argentina em alumínio que revolucionou o comércio local. O pagamento era diário e a moeda aceita em toda a região do Rio Abaixo, pois a moeda oficial do Estado em circulação era escassa e poucos tinham acesso.

“Essa moeda dava liberdade para o funcionário da Usina do Itaicy comprar produtos fora do complexo industrial, pois o padrão das outras usinas era uso de caderneta anotando o consumo do armazém e com pagamento descontado no fim do mês”, explica Marcos.

Fim da era Itaicy na indústria

A Usina fechou suas portas oficialmente em 15 de maio de 1960, data da retirada das últimas 40 famílias de trabalhadores da região, mostra uma publicação do jornal O Estado de Mato Grosso.

Conforme Vargas, o colapso das usinas de açúcar começou a partir dos anos de 1930, impulsionado por uma soma de fatores econômicos e políticos da era Vargas.

“Foi estabelecido pelo governo federal o controle nacional da produção de açúcar através do sistema de cotas por estado e por unidade industrial. Eram aplicadas autuações e multas para quem excedesse o limite de quotas de produção de açúcar. As cotas para Mato Grosso foram consideradas muito baixas”, pontua.

Vargas relata que, com isso, os usineiros mato-grossenses passaram por dificuldades financeiras por não poder produzir no máximo da sua capacidade industrial e ainda tinham a concorrência dos produtos oriundos de outras regiões que tinham cotas mais altas e custos mais baixos.

Uma homenagem pelo pioneirismo industrial

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Conforme registros do instituto Itaicy, além de energia
elétrica, a comunidade contava com água encanada


Em comemoração aos 50 anos da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt), a instituição homenageia a Usina Itaicy com a construção de uma maquete. Será utilizado um sistema de levantamento digital tridimensional feito por drones chamado nuvem de pontos, para mapear as medidas reais da estrutura e possibilitar uma reprodução mais próxima da realidade.

"Celebrar os 50 anos da Federação das Indústrias de Mato Grosso é também reconhecer a coragem e a visão de quem iniciou essa trajetória muito antes de nós. A Usina Itaicy é um exemplo emblemático de como o espírito empreendedor transforma realidades e abre caminhos para o desenvolvimento. Com essa ação, mais do que um resgate histórico, trata-se de inspiração para que possamos continuar inovando, gerando oportunidades e impulsionando o futuro da indústria em nosso estado", disse o presidente do Sistema Federação das Indústrias de Mato Grosso, Silvio Rangel.

Confira as fotos antigas da usina

Texto:Lorena Brusch

Fotos: Lucas Nunes

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