Expoind MT 2025: Segundo painel do dia debate riscos psicossociais e desafios das novas NRs na indústria - Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso

Expoind MT 2025: Segundo painel do dia debate riscos psicossociais e desafios das novas NRs na indústria

05/11/2025 - 17h24
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O debate teve como foco central as transformações trazidas
pela modernização das NRs. Foto: Geoge Dias

O segundo painel do dia, na Expoind 2025, foi "Saúde e Segurança do Trabalho diante dos riscos psicossociais e dos novos desafios das NRs". A discussão, mediada por Márcio Alves, gerente regional de Saúde e Segurança no Trabalho do Sesi MT, reuniu Sulwey Costa (coordenadora de Saúde e Segurança no Trabalho do Sesi MT), o deputado Carlos Avallone e Flora Regina Camargos Pereira (Ministério do Trabalho e Emprego – MTE).

O debate teve como foco central as transformações trazidas pela modernização das Normas Regulamentadoras (NRs), especialmente a NR-1, que passou a exigir das empresas a identificação, avaliação e controle dos riscos psicossociais — fatores relacionados à organização do trabalho, à carga mental e emocional e à qualidade das relações interpessoais no ambiente profissional.

Materialização do risco e os avanços na saúde mental da indústria

Abrindo o painel, Sulwey Costa apresentou uma visão ampla sobre os impactos econômicos e humanos da negligência aos fatores de risco psicossociais e destacou como as novas NRs exigem uma abordagem integrada entre produtividade, bem-estar e sustentabilidade.

Segundo ela, o cenário demográfico e social amplia a vulnerabilidade dos trabalhadores e a necessidade de gestão ativa dos riscos. Entre os fatores de risco apontados estão o envelhecimento da população (com 57% acima dos 45 anos até 2040), as doenças crônicas (responsáveis por 75% das mortes no mundo) e o impacto da pandemia de Covid-19 sobre a saúde mental, com aumento de quadros de estresse, ansiedade e depressão.

Esses fatores têm se refletido em custos diretos para a indústria: o absenteísmo soma mais de 300 mil afastamentos temporários, com tempo médio de 200 dias, e o custo com planos de saúde já representa 13% da folha de pagamento, impulsionado por reajustes acima da inflação.

Sulwey destacou que as novas exigências da NR-1 e da NR-17 (Ergonomia) reforçam que a prevenção deve atuar na organização do trabalho, e não apenas no indivíduo, integrando aspectos de ritmo, carga mental, metas, autonomia e suporte. “Um ambiente psicologicamente seguro se traduz em produtividade, engajamento e menores custos com afastamentos e passivos trabalhistas”, explicou.

Entre as boas práticas recomendadas, ela apontou a criação de canais de escuta, participação ativa dos colaboradores, formação de lideranças empáticas e programas contínuos de suporte emocional. Já entre os desafios, citou a resistência cultural, a necessidade de capacitação técnica e a complexidade da aplicação das novas diretrizes, que demandam soluções criativas e adaptativas.

“Humanizar o ambiente corporativo é o próximo passo da competitividade industrial. Cuidar da saúde mental é investir em sustentabilidade e resultados”, concluiu Sulwey.

Saúde mental como Política Pública Permanente

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Márcio Alves mediou o segundo painel do dia.
Foto: George Dias

Na sequência, o deputado estadual Carlos Avallone, vice-presidente da Fiemt e presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, destacou que a saúde mental ultrapassou o âmbito familiar e se tornou uma questão social e institucional.

Ele apresentou dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) que reforçam a urgência do tema: o Brasil registra cerca de 14 mil óbitos autoprovocados por ano, e o suicídio já é a 4ª principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.

Avallone compartilhou sua experiência com a criação do Projeto Escuta, iniciativa social que oferece atendimento psicológico e psiquiátrico gratuito e já beneficiou mais de mil famílias. Da mesma vivência nasceu a Câmara Setorial de Saúde Mental na Assembleia Legislativa, que tem atuado pela ampliação da rede pública de atendimento e pelo fortalecimento das políticas de prevenção.

Segundo o deputado, a atualização da NR-1 reforça o papel das empresas na promoção do bem-estar. “A saúde mental dos trabalhadores será uma obrigação legal a ser observada por todas as empresas. O SESI é um parceiro essencial nesse processo, oferecendo capacitação e suporte técnico ao setor produtivo”, afirmou.

Fiscalização orientadora e novas diretrizes da NR-1

Encerrando as apresentações, Flora Regina Camargos Pereira, auditora-fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), trouxe uma análise aprofundada sobre as atualizações e desafios da NR-1, que agora inclui expressamente os fatores de risco psicossociais no Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO). A mudança, instituída pela Portaria nº 1.419/2024, representa uma evolução importante no conceito de saúde e segurança do trabalho, ao reconhecer que o adoecimento mental e social também é resultado das condições e da organização do trabalho.

Segundo Flora, as empresas passam a ter a obrigação de avaliar e controlar todos os perigos existentes, não apenas os físicos, químicos, biológicos, ergonômicos ou de acidentes, mas também os psicossociais, como a sobrecarga de trabalho, o assédio moral, o isolamento, a baixa autonomia e o desequilíbrio entre demandas e recursos. “O foco da fiscalização não é o indivíduo, e sim o ambiente e as condições de trabalho. Nosso papel é verificar se há fatores adoecedores na forma como o trabalho está organizado”, explicou.

Ela ressaltou ainda que a revisão da norma foi fruto de um processo tripartite, debatido ao longo de três anos no âmbito da Comissão Tripartite Paritária Permanente (CTPP), envolvendo governo, empregadores e trabalhadores. Essa construção colaborativa reflete o esforço coletivo de equilibrar proteção, viabilidade e efetividade.

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O objetivo é que as empresas deixem de tratar a norma
como mera obrigação burocrática. Foto: George Dias

A nova NR-1 também fortalece a participação do trabalhador e da Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e de Assédio) na identificação dos perigos, na avaliação dos riscos e na adoção das medidas de prevenção. “A escuta ativa e o diálogo social são pilares da gestão moderna em saúde e segurança”, enfatizou.

Outro ponto destacado por Flora foi a integração entre a NR-1 e a NR-17 (Ergonomia), essencial para compreender os riscos psicossociais como decorrentes da organização e da gestão do trabalho. Ela apresentou ainda exemplos práticos de boas práticas de conformidade, como a adoção de pausas adequadas, o fortalecimento do apoio gerencial, o ajuste de metas, a flexibilização de horários e a adequação do número de trabalhadores para evitar sobrecarga.

“O objetivo é que as empresas deixem de tratar a norma como mera obrigação burocrática e passem a enxergá-la como instrumento de responsabilidade social, transparência e valorização do trabalhador”, concluiu Flora.

O moderador Márcio Alves destacou o papel do Sesi MT na disseminação de práticas preventivas e sustentáveis em saúde e segurança ocupacional. “O desafio é grande, mas também é uma oportunidade de transformar a cultura das organizações e valorizar o trabalhador como o principal ativo da indústria”, finalizou.

A Expoind MT 2025 foi oficialmente iniciada na noite desta terça-feira (04.11) e segue até amanhã (06.11). das 14h às 22h, no Centro de Eventos do Pantanal, em Cuiabá. A maior feira de negócios da indústria mato-grossense celebra os 50 anos da Federação das Indústrias de Mato Grosso (Fiemt) e marca uma nova era para o setor no estado rumo à novos mercados, inovação e ao fortalecimento de cadeias produtivas e à competitividade. O evento é uma realização da Fiemt em parceria com a Secretaria de Estado e Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso (Sedec MT).

Texto: Viviane Saggin

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